quarta-feira, 30 de maio de 2007

Definição

A economia é fortemente influenciada, tanto em sua construção como ramo do conhecimento, como na realidade, por diferentes concepções político-ideológicas, algumas até conflitantes entre si. Conseqüentemente, cada corrente de pensamento econômico enxerga a realidade sob ângulos diferenciados, a partir dos quais elabora suas concepções, estabelece seus conceitos e formata seus modelos; Embora filósofos da Grécia Antiga, como Platão e Aristóteles, e os escolásticos da Idade Média tenham explorado temas de conteúdo econômico, a expressão economia política é atribuída ao mercantilista francês Antoine de Montchrétien, autor de um Traité d’économie politique, publicado em 1615. Até chegar a este tratado, da Antiguidade ao Renascimento, as questões econômicas de maior relevância eram os sistemas da posse territorial, a servidão, a arrecadação de tributos, a organização das primeiras corporações (dos artificia e das fraternitates), a concessão de mercados, o comércio internacional, a cunhagem e o emprego de moedas; questões estas, tratadas sob os ângulos da política, da filosofia, e do direito canônico.
As dimensões da economia, enquanto ramo do conhecimento, só se alargaram com a maior complexidade assumida pelas questões econômicas, após o Renascimento, com o desenvolvimento dos novos Estados-nações mercantilistas – Espanha, Portugal, Inglaterra, França e Alemanha, onde nesse período os pensadores pós-renascentistas definiam a economia como ramo do conhecimento voltado para a administração do Estado, sob o objetivo central de promover seu fortalecimento, justificando-se assim o adjetivo economia política.
No século XVIII, o objetivo central já não era mais o fortalecimento do Estado, mas a riqueza das nações; e duas obras importantes foram publicadas, marcando uma nova era no estudo da economia, marcando o surgimento da era Clássica, que coincidiu com o movimento iluminista – A Idade da Razão.
i)
Tableau économique – François Quesnay - 1758
ii)
An inquiry into the nature and causes of the wealth of nations – Adam Smith – 1776
Embora François Quesnay tenha fundamentado o seu pensamento em levantamentos quantitativos, seu interesse maior estava em demonstrar como se formava a riqueza e como ela se distribuía entre as três classes sociais – produtores rurais, artesãos urbanos e nobres proprietários; já Adam Smith fundamentou seu pensamento em axiomas filosóficos e baseou-se nos sentimentos morais, as paixões originais da natureza, a aprovação social como sendo as razões maiores da acumulação e conservação da ordem econômica, fundamentando as leis que regem a formação, a acumulação, a distribuição e o consumo da riqueza.
Este polinômio formação-acumulação-distribuição-consumo (do ponto de vista da riqueza), foi base do conceito clássico da economia, e a maior parte daqueles que se propuseram a definir a economia neste período, tomaram como base estes quatro fluxos, foram eles o pastor Thomas Malthus, o financista John Law, o político Stuart Mill, o banqueiro Richard Cantillon, o negociante David Ricardo e o teórico Jean Baptiste Say, este último considerado um dos mais notáveis mestres da era clássica.
i) Tratté d’economique politique - 1803
« ...A economia política torna conhecida a natureza da riqueza ; desse conhecimento sobre a natureza da riqueza deduz os meios de sua formação, revela a ordem de sua distribuição e examina os fenômenos envolvidos em sua distribuição, praticado através do consumo... «
na medida em que todo o processo econômico haveria de ser investigado e classificado, explica-se o porque de um ou outro termo do polinômio ter sido tomado como base de diferenciados entendimentos político-ideológicos sobre a
eficácia social de diferentes formas de organização econômica.
Os neoclássicos mais conservadores buscaram entender o equilíbrio do processo econômico tal como se apresentava, e embora tenha despertado em muitos deles a insatisfação com relação às iniqüidades sociais, num todo, não houve uma proposta de alternativas à organização econômica da sociedade, cuidando apenas de apontar os vícios da ordem estabelecida sintetizando os temas cruciais em um novo trinômio riqueza-pobreza-bem-estar antecipando os fundamentos da conduta econômica do homem : a escassez de recursos diante das necessidades ilimitáveis.
«* As necessidades e os desejos humanos são inúmeros e de várias espécies; apenas em estágios primitivos de civilização são suscetíveis de serem satisfeitos, uma vez que o homem não civilizado não tem mais necessidades que o animal, porém à medida que progride, elas aumentam e se diversificam, ao mesmo tempo em que surgem novos métodos capazes de satisfazê-las.
* A economia examina a ação individual e social, em seus aspectos mais estritamente ligados à obtenção e ao uso dos elementos materiais do bem-estar, assim sendo, de um lado a riqueza, e do outro, o estudo do homem.
* A economia diz respeito aos motivos que afetam de modo intenso e constante a condução do homem no trato com as questões que interferem em sua riqueza e nas condições materiais de seu bem-estar - Marshall «
A proposta socialista nasce da ênfase no processo de acumulação capitalista e nos mecanismos de repartição dos esforços sociais de produção; de forma que a perspectiva socialista construiu sua concepção sobre a matéria de que se ocupa a economia a partir do binômio produção-distribuição entendendo-se neste caso a distribuição como o processo de repartição de riquezas.
«* O homem vivendo em uma sociedade que se encontra em um certo nível de desenvolvimento histórico, sente necessidades de naturezas diversas, uma de caráter biológico, outra conseqüência da vida em comum com a sociedade, e estas necessidades embora primitivamente originadas das biológicas, são por conseguinte um produto da vida social em comum dependentes do grau de desenvolvimento da sociedade humana.
* a fim de satisfazer às necessidades humanas, o homem necessita produzir ou usufruir o que extrai da natureza através do trabalho, adaptando os recursos e dominando as forças da natureza às suas necessidades em um processo chamado de produção.
* das conexões entre produção e trabalho, extraem-se os elementos vitais do processo econômico, sendo a produção um ato social envolvendo a divisão de trabalho, de forma que o trabalho do homem é uma parte do todo executado que se combina e associa com o trabalho dos demais membros. É o trabalho também uma parte do ato social, cujo produto está representado pelos bens que servem direta ou indiretamente, satisfazer às necessidades humanas, manifestadas de formas diferentes em diferentes sociedades.
* o processo completa-se com a distribuição ou repartição do produto social do trabalho, de forma que a repartição do produto social do trabalho reveste-se de caráter social – “As relações e os modos de distribuição aparecem simplesmente como o
anverso da produção. A estrutura da distribuição é determinada pela estrutura da produção – Marx – Introdução à crítica da Economia Política”
* enquanto as relações de produção dependem do nível histórico de desenvolvimento das forças produtivas e da atuação social do homem no trato com a natureza, as relações de distribuição dependem das relações de produção. A maneira como se opera a distribuição dos produtos é determinada pela maneira como os homens participam do processo de produção.«
Concluindo, na perspectiva socialista, é o estudo das leis sociais que regulam a produção e a distribuição dos meios materiais destinados a satisfazer às necessidades humanas que definem do que se ocupa o estudo da economia.
A sistematização de Lionel Robbins, não baseou-se nas categorias convencionais de fatos econômicos, fixando-se em outros pontos:
«* multiplicidade de fins; são múltiplos os fins que a atividade humana procura alcançar.
* priorização de fins possíveis; os fins possíveis podem ser priorizados
* limitação de meios; os meios para alcançar os fins, são limitados
* emprego alternativo dos meios; os meios podem ser mobilizados para os mais diversos fins. «
Para Robbins, nenhuma das quatro condições acima, isoladamente consideradas, é o suficiente para caracterizar o fato econômico, senão pela presença de um elemento importante que estabelece o elo de ligação entre as quatro condições, a capacidade humana de fazer escolhas, e esta capacidade realiza-se mediante uma multiplicidade de fins pretendidos e uma diversidade de meios para alcançá-los. Resumindo o fato econômico são atos de escolha entre fins possíveis e meios escassos aplicáveis a usos alternativos.
A sistematização acima diz respeito a economicidade da ação humana, decorrente da inevitabilidade da escolha, já que o homem age economicamente quando procede a uma escolha determinada, e esta escolha seja qual for, inevitavelmente:
«* buscará um benefício
* a um certo custo
* através de uma alocação de recursos.
* mediante um custo de oportunidade - o que se deixa de ganhar pela escolha «
Qualquer escolha feita quanto à alocação de recursos, implica uma relação entre recursos empregados a certos custos e benefícios alcançados e a ocorrência de um custo de oportunidade (aquilo que se deixa de ganhar com a escolha).
A economia pode ser vista como um ramo das ciências sociais que se ocupa da administração eficiente dos escassos recursos existentes, empregados na consecução dos fins que tenham sido estabelecidos pela sociedade.
« ...A economia é a ciência que estuda as formas de comportamento humano resultantes da relação existente entre as ilimitadas necessidades a satisfazer e os recursos que, embora escassos, se prestam a usos alternativos – Lionel Robbins ... «

Em síntese, há nítidas ligações formais entre as três abordagens consideradas – a neoclássica (riqueza-pobreza-bem-estar), a socialista (produção-distribuição) e a de Robbins(escolhas), a razão de ser da economia está presente nas três formas de delimitar o campo específico do conhecimento econômico – o estudo das formas aplicadas pelo homem na incessante busca dos meios para satisfazer as condições ilimitáveis de bem-estar.

Quadro evolutivo – (link)

http://www.bresserpereira.org.br/papers/1970/90-EconomiaFormal&EconomiaPolitica.pdf
Todas as ciências têm uma aspiração à universalidade e à neutralidade ideológica; estes objetivos foram em grande parte atingidos pelas ciências metodológicas, como a Matemática e a Lógica, e também alcançadas pelas ciências físicas, como a Física, a Química, a Mecânica, a Biologia; por analogia, os cientistas sociais também procuraram atingir essa mesma universalidade e neutralidade e dentre os cientistas sociais, talvez os economistas, tenham sido, aqueles que mais se deixaram tomar por essa tentação.
Os economistas clássicos que fundaram a ciência econômica chamaram-na de Economia Política, pretendendo, com isso, definir claramente o seu objeto: o estudo do sistema de produção e distribuição de riqueza que estava ocorrendo no sistema capitalista inglês e francês de fins do século XVIII e início do século XIX, e assim era chamada – economia política, pois buscaram analisar o sistema econômico como um processo social situado no tempo e no espaço e orientá-lo em direção a determinados objetivos políticos.

A Revolução Industrial, o grande acontecimento da época, ficou marcada pela ascenção da burguesia ao poder político e econômico e pela definição de uma ideologia liberal e individualista, que legitimasse este poder, e o desenvolvimento da economia política é o centro desta formulação.
A Economia Política era concomitantemente análise factual e sistema de valores. O mundo do ‘ser’ e do ‘dever ser’ eram confundidos. Não havia uma distinção clara entre o que os economistas hoje chamam de Economia Positiva e de Economia Normativa, ou, então, de Análise Econômica e de Política Econômica. A Economia Política era, ao mesmo tempo, análise e política, interpretação de uma realidade econômica e recomendação de uma política aos governantes, em função daquela análise e de uma série de objetivos econômicos a serem politicamente atingidos.

O desmascaramento realizado por Marx de caráter ideológico da Economia Política levou os economistas ortodoxos da segunda metade do século XIX a reformularem a ciência econômica, fazendo surgir a Escola Neoclássica, onde a tônica do movimento, porém, é o alto nível de abstração da análise realizada, e o gradualismo ou continuidade atribuídos a todos os processos econômicos e sociais, que podem, assim, ser submetidos à chamada análise marginal; a ciência econômica muda de nome deixando de ser Economia Política para transformar-se em Economia.

Com isto ela pretende uma maior universalidade e objetividade. A Economia Positiva distingue-se agora, com razoável clareza, da Economia Normativa. A ciência econômica passa por um grande desenvolvimento teórico. Muitos dos seus expoentes pretendem, afinal, haver superado a crítica de Marx, ela própria também ideologicamente condicionada. Na verdade, porém, a Economia continua tão ideológica quanto a Economia Política o era. Seu próprio início, baseado na teoria subjetiva do valor - a teoria da utilidade marginal - deixa isto bem claro.

Neste século, o pensamento econômico continuou dominado pelo pensamento neoclássico. Há, sem dúvida, a revolução keynesiana, que negou alguns dos princípios da análise econômica neoclássica - estabeleceu algumas perspectivas e conceitos novos - a visão da economia em termos agregados, a função consumo -, e chegou a conclusões diversas da economia neoclássica quanto à tendência normal da economia: estagnação e desemprego.

Keynes era, na verdade, um economista que tornou operacional a ciência econômica, estabelecendo limites para o liberalismo econômico; porém todo instrumental usado é neoclássico; inclusive a concorrência perfeita; Nesses termos, dada essa proximidade entre a teoria neoclássica e a keynesiana, esta não substitui aquela. Simplesmente enriqueceu-a. E passamos a ter a Análise Econômica dividida em dois setores principais: a Microeconomia, incorporando o pensamento neoclássico ortodoxo, e a Macroeconomia, contendo a visão keynesiana. A primeira parte do comportamento dos agentes econômicos individuais e, usando centralmente as leis da oferta e da procura, procura demonstrar a racionalidade imanente ao sistema econômico capitalista. A segunda, partindo da definição e análise dos agregados econômicos, limita a racionalidade do sistema, e estabelece as diretrizes gerais da intervenção do Estado na economia.
A economia keynesiana é um instrumento refinado da ideologia do capitalismo monopolista, da mesma forma que a escola clássica fora uma arma declarada do capitalismo da revolução industrial e a escola fora uma legitimação do capitalismo maduro da segunda metade do século XIX.

Bases de pesquisa
http://www.geocities.com/joaoaldeia/txt/eco130.htm





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